domingo, 15 de janeiro de 2012

Desespero


Há tanto tempo que não escrevo, que tenho medo de ter perdido o jeito...mas enfim, tenho a cabeça tão cheia que já nem o facto de ter perdido o talento (se é que alguma vez o tive) para escrever me afecta...
O que é facto é que me sinto cada vez mais sozinha...os meus pensamentos fazem um eco assustador na minha cabeça e são mais os dias que passo a chorar que já nem me lembro da última vez que tive vontade de me rir com gosto...Tentaram entupir-me em anti-depressivos que recuso-me a tomar, mas aceitei de bom grado os comprimidos para dormir, porque o facto de ter noites completamente em branco há já vários meses estava a deixar-me louca de desespero...
Sinto-me deprimida, no fundo do poço, o que lhe quiserem chamar...mas nem a terapia parece ajudar, muito pelo contrário, falar de coisas que enterrei à tanto tempo parece sufocar-me ainda mais de semana para semana e está a tornar-se insuportável.
O desejo de sair daqui é, agora mais do que nunca, mais forte do que poderia ser e TODA a gente me quer dissuadir desse desejo. "Olha que viver sozinha não é nada fácil! Já pensaste na solidão que é? As contas para pagar..." Eu estou-me a borrifar para isso, se soubessem o que é viver com a minha família já não me tentavam tirar esta ideia da cabeça. Quero ir para longe de tudo isto, de toda a gente, quero que me deixem em paz. Ninguém faz um esforço para se pôr no meu lugar e eu tenho de levar com as queixas e problemas de todos, pedir desculpa, tentar ser uma boa menina para além da grande nódoa que sou na vida de toda a gente. Estou farta! Ninguém me quer ouvir e se ouvem é só para me mandarem abaixo e para irem avante com as suas próprias ideias ao tentarem tirar-me da cabeça as minhas. Estou farta, sinto-me sufocada. Estou-me a cagar para a faculdade, onde cada dia há uma pessoa mais a querer-me foder a vida, estou farta de livros para estudar, só o simples facto de olhar para eles dá-me vontade de chorar porque me obrigam sempre a abri-los e a estudar para exames de que não percebo nada, estou farta de estar numa casa onde sou invisível e onde ninguém faz nada por mim mas onde querem que faça tudo por eles, que ganhe dinheiro para eles, que arranje um emprego para além da faculdade e que lhes entregue o dinheiro para ajudar nas despesas que eles próprios contraíram. Sinto-me usada, humilhada, perdida, revoltada, desesperada por sair deste sítio e não mais olhar para trás. Quero ser outra pessoa, uma pessoa boa, pura, com uma casinha no meio do campo e colher os meus próprios vegetais, ler os livros de que gosto...uma vida simples e sem grandes preocupações e sem ser um fardo para ninguém...mas isso é pedir demais...ser feliz é pedir demais...
Estou farta disto, tão, tão farta...estou a chegar ao meu limite e quando isso acontecer...
Não sei onde fui buscar tantas lágrimas para chorar durante tanto tempo...sinto-me uma autêntica criança, mas em vez de frágil, todos me acham egoísta e egocêntrica, fria, calculista, mentirosa, infantil...não quero estar aqui, não quero ser quem sou...
Só me quero livrar deste peso, desta pedra que me arrasta para um fundo cada vez mais negro...sou invisível para um mundo que não me quer mas que me continua a atormentar cada vez mais. Estou sozinha e ninguém se atreve a ver o meu lado. Seria bom ter alguém que, mesmo que eu estivesse errada, ficasse do meu lado e dissesse "Tens razão! E eu estou do teu lado!" Mas não há...sinto o meu coração tão pequenino que começo a duvidar da sua existência...sou má filha, péssima amiga, péssima pessoa, péssima em tudo, não há nada de bom em mim, NADA! E assusta-me o facto de não conseguir descobrir nada que se aproveite de bom...