quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Praia

A areia estava quente debaixo dos meus pés. Era agradável voltar áquele sítio onde outrora fui feliz, reconfortante, contudo não me sentia em casa. Fui feliz lá, sim, mas aquele local estava vazio e frio, as memórias agora agarradas á minha mente não passavam disso mesmo. Aquele local já não se lembrava de mim nem tinha sequer memória de como lá fui feliz.

O mar não estava revolto sob o sol poente e alaranjado do final da tarde, estava sim a preparar-se para um longo sono, embalado pela lua.
Decidi sentar-me á beira mar e abraçar os joelhos, na posição mecanizada que me faz sentir segura desde quando? já não sei. Perdi a conta aos anos, deixei que o tempo passasse sem me aperceber que o fazia. As minhas feições de menina, de criança foram perdidas e sem dar conta, o meu corpo tornou-se num corpo de mulher.
Como não percebi eu que o tempo passava, que o meu corpo crescia e mudava? Talvez por estar envolta num estado de apatia tal, num estado de morte inconsciente.
Contudo, aquele lugar continuava intocável pelo tempo. Os rochedos permaneceram iguais, o mar continuava na lenga lenga de ir e voltar, a areia continuava branca, fina e acolhedora.
Que lugar remoto permanece assim, puro e virgem durante tanto tempo? Quanto tempo passou ao certo? Horas? Dias? Meses? Anos?
Mas falta-lhe algo. Está vazio e a presença de quem já não está é árida.
Deixo-me no entanto estar sentada, imóvel como pedra, deixando que a briza me envolva com mais força.
E se acordo? Não quero acordar desse local, quero voltar a enchê-lo de memórias, de felicidade e da menina que outrora fui.
É impossível voltar a sê-lo.

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