quinta-feira, 26 de março de 2009

Adoro-te Avó!


Íris estava sentada no degrau à porta de casa.
Brincava com as tranças da boneca que lhe fora dada no seu anivresário.
Estava feliz, sentia-se feliz naquela casa, rodeada das pessoas que amava e que a amavam a ela...
Do outro lado da rua, quando levantou o olhar, reparou numa mulher que passava. Como era elegante a senhora do cabelo preto...
De vestido preto, bonito, leve e simples que lhe caía na perfeição sob a cintura fina; no seu pescoço fino e branco, um fio de prata, do qual pendia um pequenino coração, também ele prateado e muito simples.
Os olhos verdes, grandes como os de um gato, estavam fixos no horizonte, enquanto caminhava com confiança sobre os seus sapatos de salto agulha, também eles pretos e envernizados.
O cabelo negro como a noite, esvoaçava ao sabor do vento e na mão segurava uma pequena mala prateada, pouco maior do que uma carteira.
Íris queria ser assim quando crescesse! Queria ser como a mulher do cabelo negro.
Correu para dentro de casa e gritou "Avó!!! Avó!!! Quero ser como a senhora do cabelo negro!!"
A avó riu com ternura da menina de cabelos doirados como o sol, enquanto esta lhe descrevia a mulher que acabara de ver.
Quando Íris acabou de falar, a avó disse "Vem meu anjo, vou mostrar-te uma coisa!"
A menina seguiu a avó pela escadaria da mansão, até ao sótão. Nunca entrara lá, seria a rpimeira vez. O avô contava-lhe histórias acerca daquela divisão da casa, que estava cheia de fantasmas, dos antepassados que antes deles tinham habitado a mansão. Hesitou quando a avó passou a porta antiga e meio perra.
"Vem, não ligues ao que o teu avô diz!!! São apenas histórias..."
Íris entrou devagar e uma vez lá dentro viu que não tinha nada a temer...Apenas uma janela iluminava a divisão ampla e escura e no feixe de luz que provinha da janela, brincavam pequenos grãos de pó. Olhou em redor...Quadros antigos, fotografias a preto e branco, emolduradas em molduras antigas e elaboradas, de prata talvez...por baixo da janela, um velho e grande baú onde o pó descançava. Muitas coisas antigas, roupas roídas pelas traças, caixas, caixinhas e caixotes, um mundo de histórias que iria deixar para mais tarde...
A avó arrastou a custo o velho baú para o meio da sala, soprou e uma grande nuvem de pó se elevou no ar, o que fez com que Íris espirrasse! A avó, com um sorriso disse "Santinho!"
Ainda a coçar o narizinho, a menina viu a avó abrir o pesado "tesouro" e retirar lá de dentro um vestidinho preto e umas sapatilhas de bailarina brancas.
"Isto era meu, quando tinha a tua idade e quando era bailarina!". A avó proferiu as palavras com um sorriso saudoso, a voz tremia-lhe.
Íris olhou fascinada para o vestido...Como era bonito e simples o vestido...E nunca tinha visto umas sapatilhas assim!
Desviou o olhar do vestido e olhou curiosa para dentro do baú..."Um coelhinho de peluche?!"
"Sim, levava-o sempre comigo antes dos espetáculos! Era para dar sorte...Aqui o Sô Coelho nunca me falhava!"
Íris enfiou o vestido rapidamente e pediu a ajuda da avó para calçar as sapatilhas com fitinhas. Para toque final, a avó colocou uma fita de cetim negro nos cabelos doirados da menina. Esta olhou-se ao espelho...Por momentos não reconheceu a pequena rapariguinha que via na imagem, mas aos poucos, movimentando-se de um lado para o outro, aceitou que era o seu reflexo.
A avó parou atrás de si e colocou-lhe a mão no ombro, enquanto uma lágrima lhe corria pela face cansada e cravada de rugas.
"Porque choras avó?" - inquiriu a menina preocupada.
"Porque estou feliz!" - respondeu a avó com um sorriso triste na cara.
"As pessoas choram quando estão felizes?"
"Sim, meu anjo! Há momentos tão bonitos que nos fazem chorar de felicidade!"
"E porque estás feliz?"
"Porque me fazes lembrar eu, quando tinha a tua idade!"
Íris voltou-se para trás, meteu os braços a volta da cintura da avó e encostou a cabeça à sua barriga. A avó afagou-lhe os cabelos doirados enquando a menina era embalada naquele abraço.
"Adoro-te Avó!!!"

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