"Catarina, brincas comigo?" , perguntou-me certa vez uma criança de 4 anos.
Embaraçada, respondi "Não...". Confesso que me custou dar esta resposta, a menina estava com um ar tão feliz que ao dizê-lo tive medo de a estar a desiludir...
"Porquê?", a pergunta foi feita com tanta simplicidade e sem pinga de maldade, que me atingiu de tal maneira e com tanta clareza que me limitei a responder aquilo que à muito tempo necessitava de confirmação verbal: "Não sei brincar...", confessei envergonhada.
A menina não me julgou e limitou-se a dar um sorriso sincero, mas mais tarde avaliei a situação.
Senti-me mal na minha própria pele, como raio se perde a "técnica" (se é que existe) de brincar?
Cheguei a uma resposta que pensei, na altura ser lógica: vergonha...não de estar na presença de uma criança, mas de ter de fazer todas aquelas vozes dos bonecos, ter de inventar uma história que depois de vivida por personagens, morre para dar lugar a outra com diferentes personagens nos mesmos corpos, com diferentes nomes, personalidades e vidas...
Era uma criança de 4 anos, não iria gozar de mim, não se iria rir, iria apenas limitar-se a responder às falas das minhas personagens e ajudar a criar uma história. O pedido era simples, sincero e infantil...Ela só queria brincar comigo...E eu não fui capaz.
Cheguei à idiota conclusão de que me esqueci da minha infância, esqueci-me de como se brinca, da inocência que é requerida para o fazer...Cheguei à conclusão de que essa inocência e essa pureza de ser crinaça, foi à muito perdida e a pior parte é que nunca mais a voltarei a recuperar.
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