sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Coisas que (não) tenho

O som do que não quero ouvir grita na minha cabeça,
Tão alto que chega a doer.
Se acabasse eu ficaria bem melhor,
Se o som da tua voz fosse o único som na minha mente,
Seria bem mais fácil de travar esta guerra que não é feita de batalhas,
Mas sim de medos e agonia,
Uma guerra silenciosa e combatida apenas em sonhos,
Mais reais que eu.

Não sei de que és feito,
Se és real ou um produto da minha fértil e frágil imaginação.
O que eu sei é que não te quero perder quando ainda nem sequer te tenho.

E mais um grito de desespero gira dentro de mim,
Só quero que desapareça...
O único grito que quero que exista em mim é o meu,
Que do alto de mim insiste em sair e revelar "AMO-TE!!!"
Que desespero este de ti,
Que cegueira e vício este meu...

E num suspiro,
E num sonho,
E numa recordação,
Dói a memória de um beijo que ainda não chegou
E se desmorona o meu mundo em que existe apenas um vestígio dos teus passos e da tua presença.

"Amo-te!!!"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Insanity

"What if I told you that everything you know is a lie?"

"A lie?"
"Yes, a lie! That everything that you feel you're not really feeling, and that everything that you see does not corresponds to what it really is..."
"Is this a dream?"
"I don't know! Is it?"
"I suppose...I mean...my eyes are closed and the voice I'm hearing is my own, inside my head...Am I crazy?"
"I don't think so..."
"So what am I?"
"You're real!"

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Arabésque

Sara aguardou que a porta se fechasse. Dava tudo para estar sozinha. Sairam as últimas pessoas que compareceram ao funeral do avô.

Sentiu alívio por ter, finalmente, a casa só para si, um espaço agora vazio de presenças e cheia de molduras espalhadas pelos móveis modernos. Subiu as escadas e dirigiu-se á porta do seu quarto. Hesitou ao entrar, mas num suspiro cansado e derradeiro entrou na divisão ampla e cheia de luz. Parecia-lhe crime estar um dia tão bonito estando tão triste e sozinha.
A cama, perfeitamente arranjada, gritava agora para que alguém se deitasse nela e Sara correspondeu a esse pedido.
Tirou os sapatos pretos de cunha, massajou os pés moídos de ter estado em pé grande parte do dia, a fazer aquilo que o pai teria de fazer, se não se tivesse afogado em álcool outra vez; ficou a receber as pessoas, a ouvir as condolências e pêsames e a dar atenção a quem recordava o avô com o mesmo tom lamurioso. Despiu o blazer preto e atirou-o despreocupadamente para cima da cadeira junto á ampla janela de vidro. Deitou-se na cama, de olhos fechados e recordou a frase que o risonho avô, de cabelo grisalho e bigode da mesma tonalidade tantas vezes lhe dissera quando se sentia triste "- Nunca estarás sozinha enquanto eu estiver por perto e, mesmo que não esteja, estarei sempre a olhar por ti, meu pequeno anjo!" e recordou também o beijo na testa com que sempre terminava a frase.
Era tão real, ele estava ali! Estendeu os braços como quem pede um abraço em silêncio, na esperança de alcançar o avô, mas este, com o mesmo sorriso sereno que Sara tão bem lhe conhecia, parecia afastar-se cada vez mais, tanto que Sara viu-se obrigada a correr para o tentar alcançar. Ofegante e sem forças, viu o avô desaparecer ao longe com o mesmo sorriso ligeiro, como se deslizasse. O clarão que envolveu o avô no momento em que Sara caiu com os joelhos no chão encadeou-a.
Acordou com um peso enorme no peito, como se um tanque de guerra lhe tivesse passado por cima, o cansaço era extremo, estava ofegante e, quando levou a mão á cara, reparou que estava molhada. Teria estado a chorar? Quanto tempo estivera a dormir?
A luz brilhante do sol continuava a iluminar o quarto em tons vermelhos e quentes e quando as brancas nuvens se dissipavam, clarões de luz invadiam a toda a força a ampla divisão.
Levantou-se. Uma tontura. Levou a mão á cabeça, cerrou os olhos e os dentes na esperança de que passasse.
Desceu as escadas descalça. O avô sempre lhe dissera para que não o fizesse para que não lhe arrefessecem os pés, ou ainda se constipava. Esta memória trouxe-lhe um sorriso tão involuntário e tão ingénuo como se de uma criança se tratasse. Tão ingénuo que até sentiu um aperto no estômago, de culpa, por ter sorrido em tal altura.
A sala, apesar de ter um ar acolhedor, com os sofás familiares e a mobília moderna, a sala que tempos antes estava cheia de presenças alegres, parecia agora fria e despida.
As plantas haviam secado e o cinzento da parede tomou agora mais sentido do que nunca. Sentiu um arrpeio percorrer-lhe a espinha e apenas uma lágrima atrevida correu pelo rosto cansado.
Dirigiu-se até ao cadeirão onde o avô se sentava todos os fins de tarde para lhe contar uma história de outros tempos ou inventada, mesmo agora que Sara já estava a entrar na idade adulta, nunca dispensou das histórias do avô. Ele tinha um dom, o dom de contar as histórias como ninguém, imitando as vozes, alternado os tons, metendo mistérios e muitas gargalhadas á mistura.
Sentou-se e enroscou-se, como fazia no colo do avô e ficou a ver o pôr-do-sol. O choro tornara-se agora compulsivo e estava a molhar o braço do cadeirão. Controlou-se com a última réstia de forças que ainda lhe sobrava e levantou-se, caminhando em direcção á gaveta a que o avô chamava "a gaveta dos tesouros". Quando era pequena. pensava que guardava jóias e moedas encontradas num baú pirata, trazido pelos grandes galeões das histórias do avô. Mas os tesouros que guardava eram outros: antigas cartas de amor á avó, isqueiros oferecidos e de formatos nunca antes imaginados e, aquilo que Sara mais prezava...a caixinha de música.
Pegou na caixa de madeira e passou a mão por cima da tampa, exibindo os retalhes e arabescos elaborados. Abriu-a... Arabésque, Debussy...A sua música favorita. Fora o avô que, através dessa pequena caixinha de música lhe incutira o gosto pela música clássica.
Poisou a caixinha na mesinha de café e ajoelhou-se, debruçando-se sobre a mesa e fitando com ternura a pequenina bailarina de prata que continuava a rodopiar mecanicamente. Enquanto as lágrimas lhe corriam pelo rosto, indo ao encontro do sorriso saudoso e ternurento, Sara foi apenas capaz de murmurar duas palavras:
"- Obrigada Avô!"

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Praia

A areia estava quente debaixo dos meus pés. Era agradável voltar áquele sítio onde outrora fui feliz, reconfortante, contudo não me sentia em casa. Fui feliz lá, sim, mas aquele local estava vazio e frio, as memórias agora agarradas á minha mente não passavam disso mesmo. Aquele local já não se lembrava de mim nem tinha sequer memória de como lá fui feliz.

O mar não estava revolto sob o sol poente e alaranjado do final da tarde, estava sim a preparar-se para um longo sono, embalado pela lua.
Decidi sentar-me á beira mar e abraçar os joelhos, na posição mecanizada que me faz sentir segura desde quando? já não sei. Perdi a conta aos anos, deixei que o tempo passasse sem me aperceber que o fazia. As minhas feições de menina, de criança foram perdidas e sem dar conta, o meu corpo tornou-se num corpo de mulher.
Como não percebi eu que o tempo passava, que o meu corpo crescia e mudava? Talvez por estar envolta num estado de apatia tal, num estado de morte inconsciente.
Contudo, aquele lugar continuava intocável pelo tempo. Os rochedos permaneceram iguais, o mar continuava na lenga lenga de ir e voltar, a areia continuava branca, fina e acolhedora.
Que lugar remoto permanece assim, puro e virgem durante tanto tempo? Quanto tempo passou ao certo? Horas? Dias? Meses? Anos?
Mas falta-lhe algo. Está vazio e a presença de quem já não está é árida.
Deixo-me no entanto estar sentada, imóvel como pedra, deixando que a briza me envolva com mais força.
E se acordo? Não quero acordar desse local, quero voltar a enchê-lo de memórias, de felicidade e da menina que outrora fui.
É impossível voltar a sê-lo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Na sombra do poeta


Vivo na sombra do poeta,
Á espera que a tua luz irradie a minha inspiração.
Sem ti, não passo de um pedaço de sombra inanimada
Que transforma a vida naquilo que os outros querem.
Sem ti dói pensar, dói existir, dói ser...
Mas quando decides existir, tudo se torna fácil...
Torna-se fácil imaginar os beijos, os abraços e carícias,
As noites de amor e os dias gelados de Inverno,
Torna-se fácil imaginar o desenho dos teus lábios perfeitos,
O teu sorriso enviesado que tanto adoro,
Os contornos do teu corpo e as linhas das tuas mãos.
Torna-se fácil pensar que o amanhã contigo é possivel e que está já aqui.
Enquanto isso, enquanto não passas de um sonho real demais para aquilo que consigo aguentar,
Enquanto te vejo e toco mas não te alcanço,
Vivo na sombra do poeta, que me dá abrigo nas noites em que adormeço a pensar em ti.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cartas ao Pai Mar


Pai,

De tantas terras trazes histórias para contar e de tantos locais novos odores com sabor a sonhos trazes...
Porque de desterraste tão cedo, em tão tenra idade?
A Lua comentou e as Estrelas ao Sol perguntaram "Que fúria deu ao Mar para expulsar a pequena?".
Tiraste-me tu as barbatanas de sereia encantada, arrancaste-me a felicidade que existia quando eu vivia no teu fundo, deste-me pés nos quais tropeço e a felicidade deu lugar á mágoa e desespero.
Nem asas para ir brincar com a Lua...
Que castigo tremendo cometi eu para tal castigo receber?
Aqui em cima ninguém se apercebe das maravilhas que conténs, das criaturas fantásticas que acolhes; não conseguem compreender que os sonhos vão mais além do que apenas uma efémera imagem mental e que se podem materializar. Não são como nós (se ainda me permites que me insira na família), pacíficos. Têm os olhos vendados de ganância e maldade...
Já não compreendo a Lua, e as Estrelas já não querem brincar comigo; se mergulho em ti, tudo o que tenho é a sensação gelada do meu corpo a dilacerar-se e a visão turva que não me permite vislumbrar a tua verdadeira beleza...
Pai Mar...deixa-me voltar! Eu enfrento os buracos negros e os monstros marinhos, supero as mais difíceis provas que até hoje nenhum ser conseguiu sobreviver, mas por favor...deixa-me voltar.

Com amor.

Pedra


Jaz no chão frio como pedra.
A chuva cai sob o seu corpo inerte.
Parece morta, não fosse o facto de o seu frágil e pálido corpo estar a tremer.
Está a chorar, mas as lágrimas confundem-se com as gotas de chuva, que cai agora mais furiosa.
Talvez nem esteja a chorar, é difícil de dizer...
Os olhos azuis como lâminas de gelo, estão fixos no nada, sem pestanejar...
Dobrada sobre si mesma, se como de um feto se tratasse, não liga ao frio nem á furiosa chuva que ameaça tornar-se gelo.
É o quadro em movimento perfeito, o tempo parece não passar.
Continua fixa no vazio, como se esperasse algo que não vem, que não pode vir...
Contudo, continua inerte, aquem de qualquer alma, dobrada sobre si mesma no chão frio, com a chuva a ensopar cada poro do seu frágil corpo.
Pedra sobre pedra, chuva sobre lágrimas, inércia sobre sonhos...Eu.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Certezas


Como posso eu conhecer cada traço do teu sorriso?
Como pode ele ser tão perfeito e magoar-me tanto ao mesmo tempo?
Como podem as tuas gélidas mãos adaptarem-se na perfeição ao meu corpo e,
No entanto, nunca serão elas que me vão embalar á noite?
Como podes ter tu um sorriso secreto para mim e existir a certeza de que o mundo é a quem o mostras?
Se tenho eu o dom da palavra, como te atreves tu a obrigar-me que o perca quando te vejo?
E se és um simples mortal, como consegues tu fazer com que perca todo o vestígio de ar que inspiro?
Porque és assim, dono de uma imperfeita perfeição, divindade entre mortais?
No meio de tantas perguntas, tenho apenas uma certeza: nunca serás meu, mas enquanto te tiver por perto, na minha morte precária, serei feliz.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Noite


Declaro-me culpada!
Mas mas não cometi crime algum
O meu vício é a Noite, pois no Dia já nada me atrai...


És tu a minha Noite
Quem me traz as estrelas com o sorriso,
Quem me traz a Lua no olhar...
Quem me traz a fúria marítima
Onde á noite me quero banhar.

És tu oh Noite,
Que me trazes os sonhos cansados,
De onde já nada tiro,
De onde já nem os dias são amados.

Do Dia só me resta desprezo...
Um passado que do passado quer sair,
Uma angústia magoada, triste
Chega a ser serventil!

Porque és tão vil,
Doce Noite?
Porque me fazes sangrar tanto,
Contudo, com a doçura da criança risonha que brinca no baloiço?
Porque tomas tu a forma de quem não posso jamais ter ou amar?
Porque trazes tu sorrisos que embora luminosos de nada servem?

Oh Noite,
Meu doce e eterno vício,
Minha efémera felicidade engadanda,
Minha paixão e desespero...

Noite,
Que tomas os vivos por mortos,
Que embalas estrelas e mares...

Que vício este de ti...

Acaba com o Dia,
Manda-o embora...
Mata-o se for preciso...
Deixa-me apenas envolta em ti, ou no sonho de que te tomo como minha...

Minha Noite,
Meu vício.

As Horas



De um lado dia, do outro noite
E eu na linha em que os divide
Vivendo apenas com a memória de quem fui
E com o desejo de quem quero ser.
Estou presa dentro do meu próprio grito.
Quem me dera poder rasgar esta capa, esta pele.
Quem me dera poder correr e gritar até cair no chão sem qualquer vestígio de vida aparente.
No entanto, as horas passam...
Transformam-se em dias,
Semanas,
Meses,

Anos...
As horas passam e eu continuo presa aos sonhos vãos,
Aos pesadelos mais reais que a própria realidade.
E as horas passam...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Insanidade


Eu só quero que me deixem em paz...ou melhor...quem eu quero que me deixe em paz não me larga e quem eu quero que não me largue não está!
Não dá para aguentar...se fico calada é pior do que se falasse, mas se falar arrependo-me de o ter feito...
O mundo é irónico e se o mundo o é, porque não posso sê-lo também? Sarcástica, irónica...é o que mais gosto de ser...brincar com as palavras e metê-las do meu lado, controlá-las na palma da minha mão e usá-las a meu favor...
Contudo, cortam-me a língua e mandam-me calar, de nada serve o que tenho a dizer.
A lâmina agora parece-me uma boa amiga, aquele conforto de outrora, quando a dor física já nada é...
Insane sim, mas sou eu.

Palavras

Não sei que forma lhes dar

Não sei se juntas fazem sentido
Também...o que importa isso?
São elas que me mostram e revelam
São elas que me concedem o seu dom...
São elas que me levam ao mais fundo e podre ser de mim
E são elas que de lá me tiram...
Palavras...
Apenas palavras...

Bom Ano

Antes de mais, peço desculpa pela ausência.

Quero desejar a todos um maravilhoso ano de 2009 e que este seja verdadeiramente um ano de mudança!
Espero que tomem consiência do mundo em que vivemos e que o possamos mudar em conjunto para que seja um mundo bem melhor do que aquele em que vivemos hoje...deixemo-nos de egoísmos e egocentrismos e passemos a reparar em quem está ao nosso lado a precisar de nós e da nossa ajuda, leve-mos a quem precisa uma mensagem de amor e esperança, porque ninguém tem o deve estar sozinho e sem apoio.

Feliz Ano Novo!!!