quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Arrastada

O mundo arrasta-me...
Eu esperneio e grito, um grito mudo visto por todos, escutado por ninguém e socorrido por nada.

Apenas isso, um grito, um pedaço de ar que sai de mim, mais um...o derradeiro, talvez?
Os meus olhos perdem a cor(se é que alguma vez tiveram)...Estou exausta e deixo-me levar...
Um espasmo...
Os meus músculos contraem-se e uma dor aguda envolve-me...Não é muito diferente da dor psicológica...apenas mais...mais...mais real!
É isso!!! Real!
Mas que realidade louca é esta? Estou a afundar-me em sítio que tenho pé? onde a água não me chega nem sequer ao joelho???
Não, não é isso! A corrente arrasta-me! Uma força, um remoinho, continua a puxar-me para baixo, e esta onda de tristeza e solidão continua a manter-me abaixo da superfície do tolerável, do respirável.
Sinto a água salgada e negra arranhar-me a garganta...em breve terei os pulmões encharcados, cheios de sal, os meus olhos perderão todos os vestígios de vida e todas as réstias de súplica que neles existem (se é que alguma vez existiram), os meus músculos deixaram de se contrair e o meu nariz e a minha boca deixarão de ter força para inspirar e sugar a água que me está a envolver. Em breve estarei morta e no fundo do mar, esquecida.
Que efemeridade...Que vida ridiculamente curta!
Deixo de me debater com o mar e deixo-me simplesmente ir. Recordo sem sorrisos todos aqueles que me esqueceram e sem lágrimas todos aqueles que me humilharam.
E quando estou prestes a sucumbir ao último pedaço de oxigénio, uns braços envolvem-me e levam-me para terra firme.
A areia magoa-me o corpo, mas o que importa? Em breve acabará!
O meu corpo desmaiado é abanado, agitado e eu só quero gritar "DEIXA-ME MORRER EM PAZ, BESTA!"
Os meus ouvidos são então inundados pela suave melodia que esperava á tanto tempo ouvir, mas não naquele momento, para não partir arrependida: "Não me deixes! Imploro-te! Luta! Sobrevive! Tu és capaz!"
Capaz? Lutar?Sobreviver? Para quê? Para voltar ao mesmo, não obrigada!
Várias lágrimas quentes e suaves caem sobre o meu rosto pálido frio e sem vida.
A custo os meus olhos abrem-se e são cegados pela luz brilhante do dia. "Com calma" penso "Não tens pressa nenhuma, se quiseres desistir ainda vais a tempo!"
Uma dor imensa preenche os meus pulmões e os meus ossos, a minha garganta arde com o sal que engoli. Numa tosse convulsa e que temo que não pare, a água sai por entre os meus lábios e numa inspiração sôfrega deixo-me cair novamente na areia de olhos abertos.
O teu corpo está sobre o meu, e as tuas lágrimas continuam a verter pelos teus olhos. Um sorriso de alívio preenche os teus lábios, quentes, que beijam os meus ainda sem cor.
E o mundo deixou de me arrastar...

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