terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sufoco

O choque térmico é grande, mas tu pareces não te importar...as minhas mãos estão a escaldar, contudo, as tuas, geladas, não largam as minhas.

Eu aqueço as tuas e tu arrefeces as minhas, e ambos parecemos gostar disso. Parecemos não, gostamos de facto!
Adoro as tuas mãos, a forma que têm, a cor que possuem. O seu toque é perfeito, suave, cuidadoso, contudo, com um desejo bruto, tão cru que é impossível descrevê-lo por palavras(embora a mente reconheça cada toque) de tocar a minha pele, de não haver o ínfimo espaço entre nós.
E levantas-te, largas a minha mão, beijas o meu pescoço quente tão rapidamente que não sei se os teus lábios chegaram a tocar a minha pele, e sussurras "Em breve!"
Enquanto me viras costas e sais calmamente, uma dor profunda apodera-se de mim. Profunda ao ponto de se tornar real, ao ponto de ser palpável e física. O meu corpo parece gozar comigo, ao despedaçar-se por dentro lentamente sem deixar marcas visíveis, enquanto o meu rosto empalidece e os meus olhos perdem o brilho, enquanto a minha pele se torna mais fria e mais dura do que a tua, no fundo, enquanto eu me transformo numa estátua viva incapaz de verter lágrimas apesar da dor excruciante que está a sentir. Estou imóvel e tudo á minha volta parece correr a uma velocidade extremamente lenta, o tempo não passa e o ponteiro do relógio reclama em avançar mais um minuto.
É uma batalha...eu tento suprimir a dor e a respiração, o ponteiro do relógio luta para não cair e avançar.
Não consigo pensar, a dor é a única coisa que existe ou existiu. Não consigo respirar, os meus pulmões estão a ser esmagados. Continuo imóvel e sem marcas aparentes de frimentos externos.
Não sinto o sangue correr-me nas veias e não oiço o meu batimento cardíaco.
Oiço ao longe, muito ao longe, o som de uma campainha e a porta a abrir-se.
De repente, enquanto corres para mim e tomas o meu rosto gélido entre as tuas mãos, descomprimo. A dor desaparece, volto a ter uma cor normal, os meus olhos brilham de lágrimas que não caem (porque eu não deixo), os meus pulmões enchem-se de ar como se a pedra que os estava a esmagar fosse rapidamente tirada de cima de mim.
A tua voz é preocupada, assustada...
Eu levanto-me e enrolo os meus braços á tua cintura, equanto me envolves os ombros. Fecho os olhos e fico a sentir o teu perfume. Como é doce e viciante, não quero jamais deixar de o sentir.
Aperto-te com mais força e deixo escapar um murmúrio "Não me deixes nunca mais..."
Tu embalas-me e reconfortas-me, correspondes ao meu abraço forte com o teu corpo protector.
Na minha cabeça ecoam expressões como "Amo-te!" mas não sei se as cheguei a pronunciar em voz alta.
Já nada importa, já esqueci a dor, nem me lembro sequer o que é ou se alguma vez a senti! O que importa é que estás comigo e não me vais deixar, eu não quero que me deixes! Enquanto estiver nos teus braços serei feliz!
A porta estremece, há algo ou alguém a tentar arrombá-la. Os meus olhos olham assustados directamente nos teus, calmos, firmes e seguros.
Abraças-me para que não haja espaço entre nós e murmuras "És minha! Não deixarei que te afastem de mim, que te magoem! És minha!"

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