quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Laje

A chuva cai sobre o meu corpo. Olho para baixo para o túmulo da pessoa que outrora fui. Na mão, trago um ramo de rosas, murchas pela força da água, para substituir o ramo que foi deixado por mim á semanas atrás e que se tornou negro, quase pó.

Pó...provavelmente o que está por debaixo da campa que agora olho com tristeza e saudade...
Recordo o que fui, a criança alegre, a menina tranquila...Agora tudo isso está enterrado no túmulo que está aos meus pés.
Campa perfeita, marmórea e retalhada...Na lápide, a inscrição "Aqui jaz aquela que um dia encontrou a felicidade". Sem nome, data ou mensagem, sem compromissos...Ninguém deu pela minha falta a não ser eu mesma. É melhor assim, sem remorsos ou lamentações.
A chuva continua a bater fria na minha pele e a querer devolver á terra as rosas que trago.
Ajoelho-me junto do túmulo, deito cuidadosamente as rosas no seu tampo. Recolho as que lá estavam, negras e quase a desfazerem-se...Pouso-as a meu lado.
Deito o meu braço cansado sobre a laje fria e repouso a cabeça nele, passeando os dedos pela pedra. Não quero saber do vestido negro que trago, por isso deixo-o estar enlameado, colado ao meu corpo revelando a minha silhueta nua, real. O cabelo está nos meus olhos, mas deixo-o estar...
Beijo o tampo da campa que cobre quem fui e num suspiro lacrimoso sussurro "Descansa em paz."
Descansa em paz...

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